quinta-feira, 16 de abril de 2009

A Epistemologia do comportamento social

O Homem do sec XXI é um ser humano orgânico-bioenergético que se manifesta, agindo e/ou reagindo a partir do seu mundo interno através de comportamentos (intencionais ou não intencionais) para o mundo exterior que o rodeia fisicamente ou o mundo exterior globalizado virtualmente. A possibilidade de interacções e estímulos aumenta exponencialmente com uma avalanche cognitiva de dados.
O Comportamento humano começou a ser estudado e analisado de modo cientifíco desde os finais do seculo XIX, e tem-se revelado a área mais complexa de generalização e confirmação cientifica. Persistirá possivelmente essa impossibilidade tal como a complexidade dos temas da origem e sentido da vida. Cada vez mais se combinam diversos factores para o comportamento humano.

Imagine que se apercebe de um intruso em sua casa a meio da noite e que possui uma arma. Qual será o seu comportamento? O mais certo será responder que não sabe o que faria, só confrontado na realidade com essa situação poderia saber qual a sua reacção. Este pequeno exemplo mostra a impossibilidade de prever o comportamento humano perante determinada situação para todos os sujeitos- a generalização dos comportamentos.
No entanto, importantes avanços têm permitido determinar padrões de comportamento, bem como as causas e consequências dos mesmos, mas não é possível provar que perante determinada situação todos os sujeitos a experienciem, sintam e ajam da mesma forma.
Com o objectivo de estudar o comportamento humano surgiu Psicologia, uma ciência humana e social, de extrema importância para a evolução da regulação positiva dos comportamentos, mas que ao mesmo tempo tem sido menosprezada pela sociedade. Os sujeitos recorrem a apoio psicoterapêutico maioritariamente como uma acção reactiva a determinada crise ou problema e não como uma acção potencializadora, de auto-conhecimento e desenvolvimento pessoal.

Independentemente da abordagem psicoterapêutica , somos seres humanos, dinâmicos e complexos, com livre arbítrio para tomar decisões comportamentais (coerentes ou incoerentes) que determinam a imprevisibilidade da constância comportamental e emocional. No entanto a Psicologia tem um papel extremamente importante tendo conseguido identificar, estudar e definir as emoções humanas e ajudar o sujeito a geri-las da melhor forma. A gestão emocional é o melhor sensor para o sujeito se adaptar, regular e modificar no sentido do seu desenvolvimento pessoal.

“Conhece-te a ti mesmo” inscrição no Oráculo de Delfos

Outra questão determinante a ter em conta é de que como como seres bio-energéticos executamos um processo constante de compensações.
Dormimos como uma necessidade biológica de estarmos acordados. No entanto, da mesma forma podemos afirmar que estamos acordados para poder dormir.
A fome regula a nossa necessidade de alimentação. Poderemos tambem pressupôr que apenas comemos para poder ter fome?
Estes exemplos de compensações físicas deixam abertas questões do sentido da existência: existimos para dormir e aceder ao mundo inconsciente ou para estarmos conscientes e mantermos comportamentos sociais pré-definidos?
Concerteza surgirão biólogos a afirmar com segurança que os ritmos biólogicos correctos dos humanos são de o sujeito dormir de noite, viver de dia, de se alimentar equilibradamente e não passar fome, e de tratar as suas doenças, evitando a dor e o sofrimento. Naturalmente isso aconteceria se vivêssemos de uma forma mais primitiva e selvagem, mais instintiva.
No entanto , somos dotados de uma consciência social que nada impede o sujeito de se auto-regular em termos fisiológicos, o que nos leva a concluir que o comportamento humano pode ser absolutamente amoral e sem significação.

“Fazer. Fazer algo, fazer o bem, fazer chichi, fazer tempo, a acção em todas as suas possibilidades. Porém por detrás de toda acção havia um protesto, porque tudo significava sair 
de para chegar a, mover algo para que estivesse aqui e não ali,entrar nessa casa em vez de não entrar na casa ao lado, ou seja, em cada acto havia a admissão de uma carência, de algo que ainda não fora feito e que era possível fazer, o protesto tácito diante da evidência contínua da falta, da quebra, da escassez do presente. Acreditar que a acção podia preencher ou que o somatório das acções podia realmente equivaler a uma vida digna desse nome era uma ilusão de moralista. Valia mais renunciar, porque a renuncia à acção era o próprio protesto e não a sua máscara.”
In Jogo do Mundo, Julio Cortázar


Podendo regular os nossos hábitos contra os pressupostos orgânicos da nossa espécie, podemos assumir que o comportamento humano é em primeiro lugar um comportamento social.
É amplamente reconhecido que o homem é um ser “bio-psico-emocional-social-espiritual”. E que nos organizamos em grupos, famílias, comunidades, culturas sendo assim membros de uma sociedade que por sua constitui a SOCIEDADE HUMANA.
Assim sendo, a Sociedade Humana resulta do equilíbrio de todos os comportamentos humanos, e principalmente da tensão entre os pólos mais conservadores e os mais progressistas da sociedade, quer seja em termos políticos, bioéticos, filosóficos.
Conformado ou inconformado? Optimista ou Pessimista? Conservador ou Liberal?
Temos varios exemplos na história que comprovam que a SOCIEDADE HUMANA É EM SI MESMA UM SER ORGÂNICO PRÓPRIO E INDEPENDENTE QUE EXISTE ATRAVES DA DINÃMICA DAS MENTALIDADES DOS SEUS ÓRGÃOS SOCIAIS (cada sujeito é um órgão social). - Visão determinista
Exemplos:
- A Emancipação da mulher, foi um processo gradual resultante da luta/mudança de comportamentos de orfdem progresssista para obter a igualdade no sec XX.
- A evolução da nudez do corpo através do cinema/media do sec XX.Nos anos 20-30 as pessoas iam praticam vestidas para a praia, hoje em dia o nudismo é uma prática comum.
- Os sistemas políticos republicanos, que derivaram da Revolução Francesa, a Democracia popular. A luta pela igualdade dos direitos humanos.
- Os avanços tecnológicos após da revolução industrial inglesa. A revolução da informação com o aparecimento da Internet e o fenómeno da globalização.

Alguns sujeitos podem excepcionalmente influenciar a SH: Gandhi, Mandela, e outros que lutaram com a sua vida para alcançar direitos humanos.

É habitual ouvir as pessoas queixarem-se das condições actuais, e no entanto “o actual” é o resultado de todos os comportamentos humanos, de todas as revoluções que foram mais fortes que o pólo conservador da época, da sequência de gerações, do crescimento das cidades, da emigração, do choque de culturas, da poluição.
Há muito pouco que possamos fazer. Não querendo ser pessimista e tentando fazer parte do pólo progressista, a crise de valores, o individualismo, a corrupção, a ausência de cultura própria nos subúrbios das grandes cidades, a luta pelo poder estará sempre presente na SH, e como tal é inevitável que os humanos se auto-destruam.
A noção de bem e mal é intrinseca ao sujeito. Matar, roubar, mentir são comportamentos que o sujeito não necessita de aprendizagem social para os reconhecer como imorais. Todos os sujeitos que praticam o mal sem esta noção intrínseca terão uma patologia mental (sociopatia, psicopatia).
Por muito que a compaixão e amor se espalhe, por muitos movimentos cívicos, revoluções sociais, greves gerais, colapsos económicos, haverá sempre o egoísmo e sujeitos que se aproveitarão dos mais puros.
O Romantismo faz parte do nosso sonho, mas o Realismo da nossa existência pode ser tão cruel como o pior dos assassinos.
Resta-nos exercer a nossa liberdade na nossa vida, e aproveitar o que de melhor nos surja.

As mudanças sociais dão-se com mudanças das mentalidades, dos valores, dos princípios, atitudes que consequentemente se verificam nos comportamentos humanos, e para tal os Psicólogos são mais uma vez peças fundamentais no progresso social e e emocional da Sociedade Humana.

Sergio Amaral

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